Sotaque do YouTube: como lidar com o novo jeito de falar da criançada
Com a popularização dos tablets e smartphones, não demorou muito para que esses dispositivos se tornassem fontes de entretenimento para adultos e crianças. Os pequenos consomem de jogos a filmes, passando por vídeos de influencers digitais. Esse contato frequente, porém, vem ocasionando uma série de mudanças no comportamento infantil, manifestadas inclusive no seu sotaque.
O assunto vem ganhando notoriedade depois que crianças da região Nordeste começaram a usar o sotaque carioca ou paulista no dia a dia. Tal comportamento pode ser explicado pelo fato deles assistirem rotineiramente os vídeos de criadores de conteúdo originários do Sudeste do Brasil, como explica a professora Marivanda Guedes, que ensina no Complexo Educacional Contemporâneo, em Natal.
Dentre os produtores de conteúdo mais consumidos pelas crianças estão as Irmãs Melissa e Nicole (Planeta das Gêmeas), Lucas Neto e Isabela (Bela Bagunça), com origens sulistas e sudestinas, que se comunicam com sotaques regionais nos vídeos que postam na internet. Sotaques que, em razão do consumo, acabam sendo incorporados em outras regiões.
Em Natal, esse novo comportamento também foi observado. Alguns pais se mostraram surpresos ao constatarem que os filhos estavam adotando um novo sotaque. De acordo com Thaís Bezerril, mãe de uma aluna de cinco anos do Contemporâneo, não é difícil encontrar a mudança no modo de falar da criançada com a qual a sua filha convive.
“Ultimamente percebi que algumas crianças do ciclo social da minha filha passaram a adotar uma linguagem diferente do cotidiano potiguar. Em conversa com outros pais, percebi que mesmo controlando o uso do telefone dos nossos filhos, eles acabam adquirindo expressões de outros Estados devido à massificação de conteúdos pela internet e pelo convívio com os amiguinhos.”, explicou a mãe.
Levando esse questionamento para a sala de aula, Marivanda Guedes afirmou que é perceptível essa mudança comportamental dos alunos tanto na forma de falar como na de agir. “A maioria das crianças está reproduzindo falas, expressões e até ‘dancinhas’ cuja origem está nos vídeos que assistem na internet”, comenta a professora.
Esse fenômeno vem sendo chamado por cientistas do Reino Unido como “Sotaque do YouTube”. Uma pesquisa realizada com três mil professores da Childcare, uma plataforma on-line para prestadores de cuidados infantis, descobriu que 25% dos professores do Ensino Fundamental percebem a influência do “sotaque do YouTube” em seus alunos.
A professora do Contemporâneo ressalta ainda que essa mudança de hábitos pode ser uma boa oportunidade para o educador aproveitar as variantes linguísticas de forma interdisciplinar, com os conteúdos da grade pedagógica, permitindo ao aluno um envolvimento prático de como surgiu esse processo linguístico, em quais regiões se utilizam mais, e qual a diferença das regras cultas das coloquiais. (Elo Jornal)
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