Emílio OliveiraGrossos

A eterna e perigosa imprudência dos jovens

Por Emílio Oliveira
Quando jovem eu também fiz as minhas aventuras perigosos, mas, felizmente, mais por sorte que mesmo por perícia na pilotagem, consegui sair ileso das muitas loucuras que nessa idade também me aventurei a praticar. O meu pai preocupado com o que eu vinha fazendo no seu Jeep e também numa Vespa que me dera de presente e olha que eu tinha somente 16 anos de idade. Meu tio Geraldo também me aconselhou e até escreveu uma frase para mim e da qual eu jamais esqueci. “A juventude é a idade das ilusões, dos sonhos e das quimeras que vão se desanimando com os anos vividos, quando a criatura humana pelo raciocínio próprio compreende que tudo foi mera ilusão e depois nada.”

Ele estava ali me censurando e ao mesmo tempo me advertindo do perigo que poderia acontecer caso eu sofresse um acidente qualquer. Eu compreendia perfeitamente o que ele estava tentando me dizer, mas o vigor da idade era tanta que às vezes eu até mesmo chegava a pensar que era uma espécie de Deus e que nada poderia acontecer de ruim comigo. No auge de minha juventude era isso o que eu pensava a respeito daquelas arriscadas aventuras que fazia principalmente em cima de minha Vespa, haja vista que naquele tempo ainda não existiam as motos como elas são hoje.

E olhe que na minha época eu não levantava o pneu dianteiro não, mas apenas andava numa velocidade que não era a mais adequada para se andar nas ruas de uma cidade qualquer. Andar com cano-de-escape fazendo barulho, nem pensar. Eu apenas aqui-e-acolá andava na Avenida principal da cidade que era a Coronel Solon a qual recentemente em reconhecimento ao grande trabalho de meu pai por toda a cidade foi mudada para Avenida Raimundo Gonçalves de Oliveira, que é o seu nome.

Naquela época eu apenas corria o perigo de cair ou até mesmo chegar a atropelar alguém naquela minha insana loucura de mostrar que era um piloto de verdade. Ainda mais como não existia asfalto e apenas a Avenida Coronel Solon era pavimentada a carago que era o nosso asfalto da época e a velocidade média com que se andava era bem menor que a de hoje. Eu pessoalmente nunca levantei o pneu dianteiro de minha Vespa, até porque diferentemente das motos de hoje, as Vespas da época tinham o paralama traseiro muito baixo o que não permitia tal proeza.

Mesmo assim, meu pai soube que eu andava fazendo coisas tanto no seu Jeep quanto na aminha Vespa que não se costumava fazer na época e resolveu vendê-la para evitar que eu sofresse um acidente que poderia ser inclusive fatal. Fiquei muito magoado com ele, mas o tempo passou e toda aquela coragem e disposição que demonstrava logo se dirigiu para outro objetivo bem mais producente.

Comecei a carregar sal para a Cidade de Mossoró num Chevrolet 51 canela fina que meu pai comprara ao seu amigo Chiquinho Andrade e que foi pago em sal retirado de sua própria salina no Córrego e fiz isso até quase completar a idade de dezoito anos, quando pretendia tirar a carteira de habilitação e me profissionalizar como caminhoneiro que era enfim o meu grande sonho na época.

Enfim meu pai terminou o seu mandato de Prefeito e fomos todos morar em Mossoró e lá eu arranjei uma namorada que foi um anjo de Deus que apareceu na minha vida no momento certo e que botou na mina cabeça que eu tinha era que estudar e não ser apenas um caminhoneiro. E foi justamente o que aconteceu! Mas, voltando às extravagâncias que fiz com a minha bonita Vespa de cor cinza que papai comprara a um senhor que morava no Córrego conhecido por Lapiro e que foi a coisa mais apaixonante que ocorreu em toda a minha vida de adolescente.

Hoje eu me revejo nesses garotos em cima de suas potentes e bonitas motos bem mais modernas que a minha Vespa não apenas levantando o pneu dianteiro nas ruas da cidade em alta velocidade e arriscando não apenas as suas próprias vidas mais também as de outros transeuntes adultos, velhos, mulheres e crianças  que circulam pelas ruas da cidade e, o que é ainda pior, com os canos de escape próprios para fazer o máximo de barulho possível perturbando toda a cidade que já se sente incomodada e até mesmo amedrontada com tais práticas.

Um conselho de um coroa já mais que experiente em todos os sentidos: usem essa força e essa energia que circula tão rápida e facilmente no corpo e na mente de vocês para estudarem e se capacitarem mais porque está chegando rapidamente o futuro de um mundo cruel e de extrema dificuldade para todos vocês e principalmente para os mais despreparados, ou seja: para aqueles que não estão verdadeiramente se habilitando através do estudo e do aprendizado verdadeiro para enfrentarem esse mundo cada vez mais voraz e sem compaixão, simpatia ou empatia por ninguém.

Se vocês se sentem realmente felizes em levantarem o pneu dianteiro de suas motos e também de fazerem barulho não apenas no centro mais também e em toda a periferia perturbando o silêncio e a tranquilidade da cidade e eu sei por experiência própria que vocês se sentem, pois que reivindiquem ao poder público municipal um ambiente próprio para essas aventuras regadas a adrenalina – porque aí sim -, vocês estarão arriscando apenas as suas próprias audições e vidas e não a de toda a população da cidade.

Outra coisa que eu queria abordar aqui é a respeito do barulho ensurdecedor de suas motos não somente para vocês próprios, mas também para toda a população que involuntariamente está exposta ao mesmo perigo. Quando era jovem eu também ouvia músicas em alto e bom som para não dizer de forma exagerada, visto que esse fato pode inclusive comprometer totalmente a audição de vocês no futuro.

Quando assim procedia, o que era uma coisa comum em minha vida, meu pai sempre me advertia dizendo, Emílio, baixa esse som senão mais tarde você vai ficar surdo. Eu nem dava valor aquilo que ele me dizia e continuava com a mesma prática. O fato é que hoje eu estou aos poucos perdendo a minha audição, visto que ouço o que as pessoas falam, mas se elas não falarem mais alto, eu simplesmente não entendo o que elas estão querendo dizer o que prova que o meu pai mais experiente tinha razão ao me alertar sobre o assunto.

E eu apenas ouvia sons musicais altos que felizmente são sons bem mais harmônicos e bem menos prejudiciais aos ouvidos humanos que o som de um motor acelerado ao máximo, onde as explosões que ocorrem no interior de sua da câmara de combustão resultante da queima da mistura ar/combustível são violentas e que somente poderiam ser atenuadas com o uso de canos-de-escape próprios para esse fim e não com outros canos para justamente fazerem ainda mais barulho.

Esse fato que de forma inusitada vem ocorrendo sem nenhum controle ou ação da parte de nossas autoridades municipais está aos poucos provocando a futura perda parcial de audição de quase toda a nossa população exposta a esses explosivos ruídos e bem mais ainda a toda essa própria garotada que nem sequer desconfia, visto que eles, os próprios condutores das motos, serão no futuro as maiores vítimas dessa poluição sonora, inclusive com a maioria deles acusando perda total de audição porque estão justamente o mais próximo possível de toda essa fonte de explosões nocivas às suas audições, haja vista que conduzem suas motos sentados nas celas que se localizam a menos de um metro de toda aquela barulheira explosiva.

Eu não estou aqui com esse texto tentando denunciar ou prejudicar ninguém especificamente. Até porque gosto muito dos jovens e ainda hoje me identifico com alguns deles. A minha intenção aqui com a experiência que acumulei é apenas de alertar a todos sobre o perigo que estamos correndo, principalmente a aqueles que têm provocado tal fenômeno porque são justamente eles quem serão as maiores vítimas de todo esse processo. Noutras palavras, eu estou simplesmente com a minha experiência própria tentando enquanto é tempo alertar a todos indistintamente do que estamos sendo ameaçados no futuro.

No meu caso particular eu já vinha sentindo aos poucos que estava perdendo a minha audição e sempre que isso acontecia que era justamente ao conversar com as pessoas e se não olhasse para as suas bocas tentando ler os seus lábios eu não entendia direito o que estavam querendo me dizer e nesses momentos eu lembrava logo dos avisos de meu pai. Mas foi somente depois da contração da COVID 19 que esse processo se agravou ainda mais e que me deixou como uma das muitas sequelas o que estou tentando avisar para evitar atingir a todos no futuro.

Se não vou ser compreendido não sei e nem tampouco me interessa saber, visto não está preocupado com esse fato. Até porque o que mais me interessa nesse momento é avisar a todos dos perigos que estamos correndo e no meu caso específico de piorar ainda mais e por isso é que estou tentando enquanto é tempo avisar a todos para todos não ter que remediar depois o que se torna bem mais difícil todo esse processo de perda de audição retroceder.

Emílio Oliveira
27/11/2022.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo