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A histórica e já comprovada incompatibilidade da mistura da religião com a política

Emílio Oliveira

Por Emílio Oliveira
Eu sempre respeitei e continuo respeitando todas as religiões cristãs ou não, embora que também nunca tenha me sentido atraído por nenhuma delas. Acho inclusive que para algumas pessoas que se encontram em situação de total perda de controle de suas próprias existências como os viciados de todas às matizes, elas têm feito algum bem, na medida em que, através delas, muitas dessas pessoas têm conseguido sair do fundo do poço aonde as vezes tão deploravelmente se encontravam.

Com isso estou simplesmente querendo dizer que nem sou religioso e nem tampouco antirreligoso como alguns possam ligeiramente imaginar. Apesar de também acreditar em Deus e aceitar Jesus como seu filho que veio aqui cumprir uma missão que até o presente momento a maioria dos homens sequer entendeu, ainda não senti nenhuma vontade ou necessidade de me associar a nenhuma delas e, por isso mesmo, não condeno e nem tampouco discrimino ninguém que o faça.

Agora vamos ao que interessa realmente. Como todos sabem estamos vivendo um dos momentos mais irracionais de toda a nossa história política e, como a própria história comprova que sempre que a política se associa com a religião a violência tem sido o resultado dessa mistura explosiva provocando, aonde quer que ela tenha ocorrido, a discriminação e a condenação político-religiosa.

Para os que costumam buscar o espelho da história humana, percebe-se logo o que ocorreu na Idade Média com o Tribunal da Inquisição criado em 1.233 pelo Papa  Gregório  IX e somente extinto já  sob o nome de Tribunal do Santo Ofício – em 31 de março de 1.821 por força de lei, mas que infelizmente ainda se prolongou na prática até o ano de 1834, quando ninguém mais suportava as inúmeras mortes violentas sob torturas impostas aos seres humanos que ou desobedeciam ou simplesmente não acreditavam nos dogmas que a Igreja Católica Apostólica Romana impunham a ferro-e-fogo em nome de Deus a toda a sociedade daquela época.

A Inquisição Medieval ocorreu durante os séculos 13 e 14 e a Inquisição Moderna entre os séculos 15 e 19, instalando tribunais sempre que surgiam suspeitas de heresias e a única situação reconhecida como boa desses dolorosos períodos de exceção é que esses tribunais, felizmente, não eram permanentes. Para se ter uma ideia da crueldade que foi praticada em nome de Deus, os inquisidores portugueses fizeram 40 mil vítimas, das quais 2 mil foram mortas na ‘fogueira santa’. Na Espanha, até a tão comemorada extinção prática e definitiva do Santo Oficio, estima-se que quase 300 mil pessoas tenham sido julgadas e condenadas e dessas 30 mil foram cruelmente executadas.

Estou relembrando essa fatos históricos ocorridos não somente na Europa mais também na América não para condenar a religião católica pelos erros que historicamente cometera, haja vista que até mesmo o Papa Paulo II já pediu perdão pelos graves erros cometidos por sua instituição nesses períodos de puro terror. O que quero evidenciar aqui é o perigo que se está correndo com a possibilidade do retorno desses eventos que tanto envergonharam a humanidade ao se misturar assuntos e interesses políticos com interesses puramente religiosos.

Lamento muito dizer, mas o que vem ocorrendo atualmente com esse nosso tão amado Brasil se não for urgentemente estancado vai descambar também para esse mesmo tipo de crueldade que já ficou no passado, mas que pelas velhas e quase sempre loucas e insensatas paixões humanas, podem muito bem ressurgir com toda força no presente. Por isso mesmo é que nunca foi e ainda não é de bom alvitre que interesses puramente religiosos se misturem a interesses políticos e partidários costumeiramente corruptos porque o resultado disso a humanidade já experimentou e não deu certo.

Infelizmente, o início desse tão perigoso jogo de todos contra todos já o estamos praticando nas nossas redes sociais que se transforam em palcos de batalhas e confrontos sem fim. Já vemos extasiados amigos, brigando com amigos; amigas, com amigas; irmãos, com irmãos; país, com filhos, mães, com filhas e se esse confronto político-religioso não for o mais rápido possível desarmado, todos verão o que poderá ocorrer brevemente.

Não é minha intenção aqui julgar nem condenar ninguém especificamente. Nem aos religiosos católicos que são bem mais comedidos visto que a história já os ensinou alguma coisa a esse respeito. E nem tampouco aos do grupo evangélico pentecostal ou neopentecostal que em função de seus dogmas religiosos são bem menos tolerantes com certas questões identitárias da convivência humana. Mas o que tem mesmo a ver o aborto que é mais uma tragédia humana que um crime hediondo, ou a união homoafetiva masculina ou feminina que é outra forma de amor que apesar de ainda não ser totalmente convencional necessita ser respeitada, com o Estado como Instituição que é laico e que, se não o fosse, necessitaria sê-lo?

Nas grandes questões políticas e sociais que deveriam bem mais interessar a todos os cidadãos comuns, como por exemplo: trabalho digno, salário decente, moradia de qualidade, emprego, desemprego, aumento da renda oriundo do trabalho, educação de qualidade, saúde, segurança, energia elétrica, combustíveis, gás de cozinha e custo de vida mais barato e acessível à todos, geralmente elas são deixadas em segundo plano pela maioria dos evangélicos que priorizam bem mais pautas religiosas que envolvem costumes e comportamentos, as quais são também importantes, mas que nada têm a ver com a atuação do estado que é LAICO e não pode ter e nem tampouco alimentar esse tipo de preocupação.

Na verdade o que deve ser a preocupação maior de um candidato a presidente da República é a busca por salários mais dignos para o seu povo, salvaguarda de seus direitos trabalhistas, controle da inflação e do câmbio, estímulo a produtividade e ao crescimento da economia, diminuição dos impostos cobrados aos mais pobres e aumento dos mais ricos que podem pagar mais, aumento dos investimentos em saúde, segurança, educação de qualidade, moradia digna para todos, portos, aeroportos, estradas, energia renovável e não poluente, diversificação da economia, aumento de sua produtividade, investimento em novos projetos de industrialização, aumento de sua competitividade sistêmica, aumento das exportações, diminuição das importações e, por último, buscar a mais inteligente política de comércio exterior que nos aproxime de todos os povos do planeta com respeito a todos e sem nenhum tipo de discriminação ou violência que nos desabone ou nos desqualifique nesse sentido.

Além de tudo isso que foi acima elencado, necessita ainda de um presidente que – além de competente seja também emocionalmente equilibrado ao ponto de respeitar a todos os outros poderes internos e externos da República e também aos outros partidos que não o seu -, inclusive seus adversários, vendo-os sempre como adversários e nunca como inimigos que precisam ser destruídos ou eliminados e que, ao invés de ser um elo de desunião, seja uma corrente de coesão entre todas as forças da nação para que se possa construir um país equilibrado, admirado, apoiado e aplaudido por todos.

Diante de tudo isso atrevo-me a perguntar aos amigos evangélicos pentecostais e neopentecostais e também a outros que se professam católicos ou de outras religiões se o candidato que a maioria deles está predisposta a votar no próximo domingo que é amanhã se estão realmente preocupados com todas essas pautas cidadãs elencadas acima? Se a resposta for sim tudo bem, visto ser um direito de cada cidadão votar naquele que merece a sua confiança como eleitor. O problema é que se formos analisar sem as insensatas paixões que geralmente nos cegam a pauta do nosso atual presidente perceberemos logo que todas as suas ações administrativas – costumeiramente conturbadas e conflitivas -, são totalmente opostas ao ideal de um Presidente da República sério, equilibrado e realmente comprometido com os reais interesses da maioria do país e de seu povo mais que sofrido.

Foi justamente visando compreender melhor todo esse processo que já me aventurei a ler a “Bíblia Sagrada” que os cristãos evangélicos e católicos acreditam que é a mais pura e única palavra de Deus, mas que, na verdade, historicamente, ela é apenas a história dos Hebreus, um povo que se autoproclamou como sendo o único povo escolhido de Deus, mas que, infelizmente, somente o sangue e a violência os tem acompanhado desde os primórdios de sua existência: seja na antiguidade como vítimas (quando da destruição de seu templo pelos romanos, da escravidão no Egito e da tragédia do holocausto imposto pelos alucinados alemães de Hitler), seja como algozes dos povos que na antiguidade ocupavam a Terra Prometida ou também no presente com a forma violenta como tratam os povos palestinos seus parentes mais próximos, visto serem quase todos descendestes de Ismael que também era filho de Abraão.

Será que já não é chegado o tempo de os nossos irmãos religiosos entenderem que política misturada com religião nunca deu certo em tempo ou lugar nenhum onde isso aconteceu e que, por isso mesmo, deveriam era urgentemente seguirem bem mais os sábios conselhos e principalmente as práticas do grande mestre Jesus que amava a todos  incondicionalmente do que continuarem seguindo fielmente os ensinamentos da Bíblia Sagrada que foi escrita numa época já tão distante da nossa e que talvez por isso mesmo é que carregue tanta violência e opressão, as quais colidem frontalmente com todos os ensinamentos inclusivos e puramente amorosos de Jesus?

Não sei se estou certo e tenho a humildade de reconhecer que ainda estou infinitamente distante da verdade que tanto tenho procurado, mas na minha ainda modesta e tosca compreensão, acho que Jesus veio para modificar totalmente a maioria dos ensinamentos contidos na Bíblia, descartando tudo aquilo que significasse o uso de discriminação e violência e ensinando unicamente aos seus discípulos e seguidores que na busca pelo Deus verdadeiro, o único caminho para se chegar até ele é o amor e não apenas o amor pelos que concordam conosco ou que nos obedecem, mas o amor incondicional que ele tanto defendia, pregava e exercitava.

Retornando a velha e corrupta política onde estamos todos envolvidos até o pescoço nesse momento, tenho tido algumas divergências programáticas com amigos religiosos de todas as matizes que vez por outra durante as nossas conversas dão sempre a entender que sou esquerdista, socialista e até mesmo comunista porque eu sempre me preocupei e continuo me preocupando com a fome, a miséria e a pobreza endêmica que passa o nosso tão sofrido povo num pais tão rico como esse nosso, onde os que felizmente conseguem um trabalho, no dia em que morrem suas famílias sequer têm condições de comprarem uma urna funéria para serem enterrados com dignidade, sendo muitas vezes necessário recorrerem a assistência do poder público municipal nesse sentido. Se bem que com os atuais planos funerários surgidos recentemente, tal tipo de constrangimento diminuiu significativamente ao ponto de quase já não mais se ver e, esse fato, tem alegrado bastante o meu já velho e surrado coração.

Sempre que recebo esse tipo de tratamento, como resposta tenho recorrido imediatamente aos ensinamentos do próprio Jesus contidos parcialmente nos quatro Evangelhos do Novo Testamento bíblico. E porque faço isso? Por que já notei que somente usando os ensinamentos da Bíblia referentes a Jesus é que todos esses religiosos ou se calam, ou se retiram sem argumentos para defenderem suas ultrapassadas teses do velho e já mais que caduco “amor condicional” geralmente induzido aos povos de todo o Planeta pelas antiquadas religiões judaico cristãs, quase sempre mancomunadas ou aliadas à velha política partidária de interesses puramente mundanos.

Quando se incomodam demais comigo porque costumo defender os interesses dos que fazem tudo e não têm quase nada – que são os bilhões de pobres -, e ao mesmo tempo também critico os que não fazem nada e têm tudo – que são os pouquíssimos ricos -, lembro sempre a eles que Jesus na sua extrema preocupação com esse tipo de problema da humanidade que já havia no seu tempo e que continua ainda senão pior nos dias de hoje, ficava sempre e sempre ao lado dos mais pobres, doentes e sofredores.

Disse ele: se te pedires a tua capa, daí também a tua túnica; se o teu vizinho te convidar para caminhares um quilometro com ele, caminhas dois; daí de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede; se alguém bater na tua face direita, daí também a tua face esquerda; é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha que um rico avarento entrar no reino dos céus; chegou um ricaço para ele e lhe perguntou, Senhor o que tenho de fazer para ganhar o reino dos Céus? Ele respondeu: vende tudo o que tens e daí aos pobres; sempre que daí aos pobres e pequeninos é a mim que dais; trouxeram-lhe uma mulher adúltera e lhe perguntaram? Senhor, essa mulher foi pega em adultério devemos apedrejá-la como manda a lei de Moisés, ou não? Quem entre vós que não tiver pecado, que atire pois a primeira pedra; depois que todos se retiraram ele disse a ela: vai e não pequeis mais e esse era justamente um dos mais imperdoáveis pecados do seu tempo.

Antes do julgamento e da crucifixão um dos soldados romanos o ameaçou com uma lança e Pedro logo reagiu cortando com a sua afiada espada a orelha desse soldado. O que fez Jesus? Pegou o pedaço da orelha do soldado que estava no chão e o colocou no lugar que imediatamente cicatrizou e voltando-se para Pedro, disse-lhe: Pedro, embainha a tua espada, porque quem com ferro fere, com ferro será ferido.

Quando estava sendo torturado e morto pelo Império Romano a pedido dos dois maiores sumo sacerdotes religiosos judeus Anás e Caifás, que se achavam incomodados com a verdade trazida por Jesus que estava conseguindo mostrar ao povo judeu toda a falsidade da religião deles, um dos bandidos que estava morrendo ao seu lado reconheceu seu erro e lhe pediu clemência. E ele imediatamente disse-lhe: ainda hoje estarás comigo no Paraíso.

Há tantas passagens da vida de Jesus nos quatro evangelhos contidos na Bíblia onde ele sempre ficou ao lado dos mais pobres, dos pequeninos, dos sofredores, dos doentes e até mesmo daqueles tratados como bandidos na época que se ele voltasse hoje eu tenho quase certeza que ele também seria taxado de esquerdista, socialista ou comunista. Até porque ninguém mais que Jesus, nem mesmo os grandes teóricos esquerdistas da história da humanidade defendeu tanto os sofredores desse mundo cada dia mais injusto e desigual do que Ele próprio.

Às vezes eu vejo nas redes sociais alguns cristãos concordando e alguns até mesmo exigindo que bandido bom é bandido morto, condenando sem piedade os homossexuais de ambos os sexos, as mulheres ditas de vida fácil que vejo mais como de vida difícil pelas circunstâncias que tiveram de enfrentar ao ponto de terem chegado até mesmo a praticarem o aborto e fico analisando como toda essa gente religiosa ainda não entendeu na verdade o que significa o  amor incondicional.

Sempre que me deparo com essas inusitadas situações eu penso assim: meus Deus, será que todos esses cristãos das mais diversas denominações religiosas que alimentam esse tipo de pensamento contra o próprio ser humano que é na verdade uma extensão deles mesmos, ainda não entenderam o grande significado da vinda de Jesus a essa nossa Terra ainda totalmente cheia de julgamentos e condenações injustas como se ainda estivéssemos vivendo na pré-história, na antiguidade ou na Idade Media?

Retornando enfim a eleição presidencial que ocorrerá no próximo domingo dia 30 de outubro, manhã, tenho a dizer o seguinte: estão postos aí disputando no tabuleiro da política partidária os dois candidatos que polarizaram a campanha desde o primeiro turno e, portanto, somente restaram esses dois. Como a cidade já sabe eu votei no primeiro turno no único candidato que apresentou ao país um projeto de desenvolvimento econômico e social viável não somente para o nosso país, mas também para todos nós brasileiros homens e mulheres, velhos, jovens e crianças que foi o Ciro Gomes.

Infelizmente o nosso povo mais que sofrido, enganado, explorado e principalmente manipulado eleitoralmente pelas  grandes mídias sempre parciais e eternamente patronais, ainda não conseguiu compreender esse fato tão importante para todas as nossas vidas e mais uma vez se deixou levar pela paixão induzida que sempre satisfaz ao coração, mas nunca a realidade verdadeiramente cidadã tão necessária e indispensável a todos nós brasileiros e brasileiras.

Dos dois candidatos temos o Lula – 13 – que já é um velho conhecido do povo brasileiro que quando na presidência da República fez um trabalho mais que inusitado em prol da pobreza desse país, o qual não adianta nem aqui elencar, visto que a memória do próprio povo ainda está muito viva a esse respeito. Do outro lado – temos o atual presidente, o Bolsonaro – 22 – cujas inúmeras confusões e conflitos senão todos, mas pelo menos a maioria já sabe muito bem aonde ele quer chegar. Portanto, vai depender da maioria do eleitorado brasileiro continuar com as atuais estrepolias do presidente Bolsonaro, ou migrar para uma mudança supostamente melhor com o Lula.

Para concluir, um velho amigo de Mossoró que como eu também não é religioso na semana passada me disse uma frase que ainda está zunindo nos meus ouvidos: “Votar no Bolsonaro é abrir a porta do inferno para os mais pobres”. “Votar no Lula é abrir a porta ou do purgatório dos católicos ou do umbral dos reencarnacionistas para os pobres´”. Traduzindo melhor: quem entra no inferno normalmente não sai de lá. Quem entra no purgatório ou no umbral, resta ainda uma esperança mesmo que no futuro também possa vir a ser vã. Com a decisão, portanto, o mais que já sofredor povo brasileiro!…

Emílio Oliveira.
Grossos (RN), 29/10/2022.

2 Comentários

  1. Há muito mais “coisas” ocultas na Bíblia que foge totalmente à mira do intelecto humano. Além de histórico, a bíblia também é um livro enigmático. Está escrito que somente Deus tem a prerrogativa de revelá-la aos homens.
    Jesus, sim, sempre esteve do lado dos desvalidos. Aquele que se diz cristão também não deveria seguir o exemplo do seu mestre?

  2. Excelente artigo, Emílio: informativo, profundo, inteligente. Conhecer a história, para não se cometer os mesmos erros do passado, e pensar com independência, sem se subordinar a dogmas, são atitudes fundamentais para que o mundo venha a ser sempre um lugar melhor para a vida humana.

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