A Filosofia é essencial para o surgimento de um pensamento crítico, um questionamento saudável capaz de gerar uma discussão sobre diferentes verdades.
A atitude filosófica faz parte da vida de todos nós ao debater sobre a existência e, também, sobre o mundo e o universo. É o pensar, livre pensar. Para quem imagina que o filósofo é um utópico: “A Filosofia ensina a agir, não a falar”, disse Sêneca há quase 2.000 anos, sábio estoico e um dos mais célebres advogados, escritores e intelectuais do Império Romano.
A Filosofia não possui uma determinação de utilidade. E por não possuir tal objetivo, é que se constitui no principal saber da humanidade, algo essencial à evolução. Interessante partir da hipótese de que tudo o que você viveu não existiu, que sua vida foi uma mentira, como no filme “Matrix”, da irmãs Lana e Lilly Wachowski. Na trama, os personagens “Morfeu” e “Neo” se encontram em um diálogo assim, no qual o primeiro promete ao outro apenas a verdade, pois até então ele teria vivido em um mundo fictício, fora da realidade e engendrado para que ele jamais percebesse.
A ideia não é nova, já havia sido defendida por Platão em “A República”, no livro 7º, conhecido como a “Alegoria da Caverna”, há centenas de anos antes de Cristo. Por mais que “Matrix” seja uma imaginação científica, nossa história soma velhos padrões determinados que, ao longo do tempo, foram superados com a ajuda da Filosofia. Ela abre nossa mente, nos tira do “mais do mesmo”, nos liberta de pensar apenas “dentro da caixinha”.
Para criar possibilidade infinitas, provocar uma ruptura de limites, é preciso filosofar. Para pensar é necessário ter tempo, sem ocupar a mente com preocupações do dia a dia como: sobrevivência, família, riscos etc. Esse tempo para refletir está cada vez menor na competitividade do mundo moderno, cada vez mais as pessoas pensam menos. A escravidão do passado, do trabalho sem respeito, hoje está presente na necessidade de alcançar status, ter poder econômico e social. Seguimos acorrentados.
Estamos nos tornando seres automatizados, apenas comprometidos com coisas práticas e de resultados imediatos, supostamente vantajosos. Desde a primeira revolução industrial – e não paramos mais, agora estamos na 4.0 – não sabemos mais filosofar, refletir, estabelecer novas dimensões de pensamento livre de interesses econômicos.
Não há sentido na vida apenas assim. A tecnologia deve ser um agente da felicidade. Criamos uma geração adoecida, e muito além da Covid-19, vítima de estresse, ansiedade, depressão, síndrome do medo e outros males – todos da alma e não físicos, mas dando espaço a eles. E tem crescido o número de suicídios, em especial entre os mais jovens que não veem perspectivas futuras de felicidade. Em todo o planeta, as mortes por suicídio chegam a 800.000 por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Contrariando o que disse Shakespeare, você poderá observar que não há tantos mistérios entre o céu e a terra, porque a Filosofia não é vã e imagina muito além dos limites para construir a felicidade.
*Ricardo Viveiros é jornalista, escritor e professor. Doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e autor de vários livros, entre os quais: “Justiça Seja Feita”, “A Vila que Descobriu o Brasil” e “Pelos Caminhos da Educação”.