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O preço da vitória

Por Emílio Oliveira – O preço da vitória
Todo aquele que teve ou tem o privilegio de disputar e ganhar uma eleição presidencial recebe o bônus não somente da vitória eleitoral em si, mas também os frutos positivos e/ou negativos da sua administração e que é aquilo que normalmente chamamos de ônus. O Lula ganhou a eleição para o Bolsonaro, mas ainda não ganhou a batalha que se travará doravante ante os olhos e os ouvidos atônitos ou não de toda a população brasileira.

Como todos já sabem não votei com o Lula no primeiro turno pelo simples fato de ter de forma consciente apoiado o único candidato que tinha um Projeto Nacional de Desenvolvimento para esse nosso já tão desalentado e sofrido país. Na verdade, no segundo turno, eu nem sequer votei no Lula apesar de ter digitado o 13 e dado e ENTER, mas contra a administração Bolsonaro e o que ela estava significando para o futuro do Brasil.

Se o Bolsonaro continuasse no poder daqui a no máximo dez anos os empregos formais se acabariam de vez, quem iria decidir quanto o trabalhador deveria ganhar seriam os seus próprios patrões, a aposentadoria dos trabalhadores que é uma segurança na sua velhice seria apenas uma boa e vaga lembrança, além de que toda a economia do país estaria privatizada e dolarizada e unicamente nas mãos dos mais desumanos e insensíveis empresários do mundo que são justamente os brasileiros.

Para não ser injusto com alguns visto não serem todos os empresários assim, mas, felizmente, há uma minoria que talvez se possa até mesmo contar nos dedos da mão esquerda do Lula – que são bem diferentes da maioria e que felizmente têm Deus não apenas na boca, mas também no coração. A esses poucos heróis eu felicito porque eles além de gerarem os empregos que a nossa economia tanto necessita, também se compadecem da condição mínima de vida de seus trabalhadores que são quem na verdade fazem tudo e não têm quase nada.

Além de todas essas distorções e desumanidades no setor social e produtivo da economia, também a desorganização e a indiferença com o meio ambiente, o esvaziamento da educação ao nível de primeiro, segundo e terceiro graus e, também das universidades e centros de pesquisas avançadas do país, indiferença e inclusive até mesmo desmonte da nossa cultura que é tão rica e que por isso mesmo precisa ser cada vez mais reforçada para se construir um país com a sua identidade cultural que preserve os seus valores positivos e não apenas os negativos.

Eu já tenho 74 anos bem vividos e nunca vi tanto ódio, violência, indiferença, discriminação, preconceito, humilhação, despolitização, conflitos religiosos até mesmo entre os irmãos cristãos, sendo diuturnamente instilados em toda a nossa população. E isso tem gerado o que temos assistido todos os dias não somente nas redes sociais mais também ao vivo nas ruas e avenidas de nossas cidades. Um conselho aos que se aventurarem a ler esse meu singelo texto. Jamais acreditem em quem simplesmente aceita ou prega o ódio, a discriminação e a violência contra os seus semelhantes, seja em nome do que for: Deus, Pátria, Família, Casamento, Amigação, Separação, União Homoafetiva ou qualquer outra coisa que o valha.

Todas as grandes tragédias da humanidade aconteceram justamente assim. Somente para citar o caso mais próximo de nós no termpo, vejam o que aconteceu na Alemanha de Hitler que na época era o país mais culto e desenvolvido da Europa e toda aquela barbaridade já conhecida de todos foi executada entre os poucos anos de 1933 a 1945, quando, felizmente, tudo acabou. Lá, como cá, começou da mesma forma, através da instilação e da propagação de ódio contra os judeus, os socialistas, os comunistas, os progressistas, os intelectuais de visão diferente da de Hitler e sua turma de militares enlouquecidos pela violência e pelo poder sem limites que é o que o Bolsonaro também queria e que, felizmente, não conseguiu.

Mas, porém, contudo, todavia, retornando a democrática e legítima vitória do Lula que lhe foi concedida espontaneamente pela maioria da população brasileira, começamos a perceber as dificuldades que se apresentam na sua hoje mais sagrada missão que é a de tentar reorganizar o país para todos os brasileiros e principalmente para os mais pobres que são os que mais necessitam da proteção do governo, antes mesmo que ele assuma o cargo de presidente da República.

A turma do quer tudo somente para ela já começa a ensaiar os seus eternos e espúrios interesses financeiros que é, como sempre, o de se apossar da maioria dos recursos produzidos pelo trabalho de toda a sociedade brasileira, mas que, infelizmente, desde a fundação desse nosso tão injusto país, vem sendo impiedosamente repassado para essa ambiciosa, impatriótica e desumana gente. Afinal de contas quem é essa gente? Ela é formada pelos velhos e famigerados rentistas que com as suas ambições desmedidas estão matando o sistema capitalista que eles tanto prezam no mundo todo, inclusive no país mais rico do mundo que são os EUA.

O capitalismo produtivo é uma coisa, enquanto que o capitalismo rentista é outra completamente diferente. No capitalismo produtivo do passado quem tinha dinheiro resolvia investi-lo num negócio da economia produtiva qualquer para ter lucro com o seu capital, mas também geraria empregos, salários, produtos, impostos e riquezas diversas para toda a sociedade onde ele estivesse inserido. Já o capitalismo rentista não se aventura a produzir nada a não ser a simples reprodução de seu capital através da geração de juros oriundo de empréstimos feitos massivamente aos governos dos estados que quase sempre se tornam reféns dessas operações juntamente como o seu próprio povo, sem produzir especificamente nenhum bem que não sejam dividas cada vez mais impagáveis, até porque a medida que a dívida cresce, cresce também os juros.

Para ter-se uma visão mais acurada do que o capitalismo rentista esta provocando na economia do nosso país, basta se observar o orçamento

 

do ano passado 2021 que, mesmo com a pandemia prejudicando toda a nossa economia, os rentistas do Brasil levaram 50,78 por cento de todos os nossos recursos orçamentados e executado, ou seja: 1,96 trilhão de reais. Vide quadro demonstrativo anexo ao lado. E veja também as outras despesas para todas as outras urgentes necessidades de nossa tão sofrida população. Ao se analisar esse quadro, percebe-se logo qual é a prioridade maior do nosso país e para quem ele realmente funciona.

Traduzindo em termos reais o que significa toda essa dinheirama repassada pelo nosso Tesouro Nacional aos rentistas internos e externos via bancos comerciais, daria para resolver todos os problemas emergenciais e atuais de nossa economia com grandes investimentos em saúde, educação, segurança, portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, pontes, barragens, viadutos e até mesmo a revitalização de nossa indústria que aos poucos vem se reduzindo a cada dia que passa.

Se o orçamento do ano passado foi assim tão ruim para as finanças do nosso país e do seu povo sofrido, nesse ano de 2022 as previsões são piores ainda, visto que de 50,78 por cento destinados ao pagamento de juros e amortizações da nossa divida interna e externa, aumenta para mais de 52,00 por cento e o que é pior, a dívida ao invés de diminuir com o tão sagrado pagamento, vai está é aumentando cada vez mais. Noutras palavras, o saco sem fundo de nossa divida interna e externa é tão grande e imoral que, quanto mais se paga, mais se deve.

Essa semana alguns dos economistas mais respeitados do Brasil os quais inclusive foram teoricamente os responsáveis pelo vitorioso Plano Real que com a sua famosa URV conseguiu dizimar a nossa inflação já sem controle há vários anos fizeram uma espécie da carta o que para alguns foi um alerta e para outros uma ameaça direta ao Lula sobre o perigo de ele ter que abandonar o Teto de Gastos no que diz respeito ao perigo da volta da inflação. Para eles a quebra do Teto de Gastos vai disparar a inflação e pode desorganizar toda a economia do país.

O interessante da visão sempre unilateral e míope desses economistas neoliberais é que a maior despesa do governo antes e também depois do Plano Real que é o sagrado pagamento das dividas internas e externas com seus serviços de amortizações que nunca ocorrem, visto que essas dívidas sempre crescentes são juntas a maior de todas as despesas, mas que, inexplicavelmente, ela sempre fica fora do Teto de Gastos. Por que será, hein?

Ou seja: pode faltar dinheiro para tudo o que diz respeito aos interesses maiores do país e de seu povo carente, como por exemplo: saúde, educação, infraestrutura, segurança e enfim para todos os compromissos que constitucionalmente o governo tem com os interesses maiores de seu povo, menos para os juros dos rentistas que representam o famigerado mercado financeiro que já há tempos tem sido a única prioridade desse nosso tão rico e ao mesmo tempo tão pobre país.

Portanto, mesmo com o apoio da maioria do povo brasileiro que espontaneamente o elegeu Presidente da República, o Lula precisa ter muito cuidado não somente com o que diz mais principalmente com o que vai fazer, haja vista que a espada de Dâmocles estará sempre apontada em sua direção, mesmo que ele tenha todo o prestigio eleitoral já provado no passado e também agora nos dois turnos do último pleito.

Essa carta certamente que não significa apenas um mero aviso camarada mais também uma velada ameaça dos poderosos rentistas internos e externos desse país se ele, o Lula, não se enquadrar nas condições dessa tão egoísta gente. E vejam que o Lula é hoje não apenas um líder do Brasil ou da América Latina não, visto que ficou mais que provado que ele é também hoje o maior líder de todo o mundo industrializado, haja vista que no COP27 ocorrido a semana passada no Egito, ele deu um verdadeiro Show de competência e liderança política.

O aviso já foi dado e o Lula que se cuide, posto que esse tal de “RENTISMO” onde o dinheiro gera dinheiro apenas com juros e sem produzir praticamente nada a não ser dividas e responsabilidades financeiras impagáveis, representado pelo atual neoliberalismo que a nível mundial  já vem inclusive destruindo as economias mais prósperas do planeta, cujo único mérito por extensão é que, está também matando o sistema capitalista que a ferro-e-fogo tanto se orgulham e defendem.

Entretanto, esse famigerado mercado, representado por toda essa egoísta gente vai primeiramente esperar pelas ações da politica econômica do Lula, principalmente na escolha do futuro Ministro da Economia, no que diz respeito a continuar com a manutenção do Teto de Gastos com a administração dos juros da dívida pública interna e externa fora desse teto, o que significa que não faltará dinheiro para pagar a esse mercado, do nível da taxa de juros, do Banco Central Independe, e por último, da taxa de câmbio estabelecida pelo governo.

Se a política econômica do governo Lula não agradar ao mercado nesses aspectos acima descritos, podem esperar que brevemente iremos perceber  a televisão criando sobressaltos e incertezas não muito boas sobre toda a economia do país e responsabilizando diretamente o governo Lula  por tudo o que estará acontecendo.  Infelizmente, é sempre assim que o tal mercado age em todos os países do mundo.

Recentemente tivemos uma pequena amostra da disformidade funcional desse tal mercado. Somente porque o Lula falou a respeito de resgatar a fome e diminuir a pobreza no país que aumentou significativamente no governo Bolsonaro, o dólar subiu e a bolsa-de-valores caiu assustadoramente. Por que enfim esse fato aconteceu? Qual o motivo real em termos econômicos provocou tal fenômeno? Nenhum! Apenas manipulação dos donos desse mercado que mexeram com os seus pauzinhos e o fenômeno ocorreu.

Infelizmente é assim que hoje funciona a economia capitalista de mercado rentista em todo o mundo dito civilizado, e se o governante do dia não obedecer integralmente ao interesse desse mercado, tudo na economia vem abaixo e advinha quem será responsabilizado pelo fato? O governante de plantão! E quem se encarregará de divulgar o discutivel fato é a televisão que também, em parceria como o mercado, se transformou na máquina de criar fantasmas do sistema.

Noutras palavras, chegamos num estágio do capitalismo mundial que não é mais o velho e razoável bom capitalismo de Adam Smith que surgiu oficialmente com a publicação de seu livro: A Riqueza das Nações, lançado em 09 de março de 1776. No capitalismo de Smith, todas as nações do planeta se soubessem se apresentar no palco das necessidades gerais dos países da época e também fossem respeitadas todas as suas particularidades intrínsecas, tinham igualmente a possibilidade de enriquecerem juntas, melhorando o fluxo de riquezas entre elas e também entre todos os seus habitantes, de tal forma que o mundo para todos seria bem menos injusto que o que temos hoje.

Esse era enfim o velho sonho romântico do grande Smith, quando o seu capitalismo nascente ainda era puramente produtivo, ou seja: havia investimentos unicamente produtivos públicos e/ou privados em fábricas de diversos produtos e infraestrutura dos estados,  trabalho e emprego para as populações de uma forma geral, imposto para os governos, produtos cada vez de melhor qualidade para os consumidores e preços cada vez mais acessíveis a todos. Esse ai era o capitalismo produtivo de Smith que deu um grandioso impulso de progresso e desenvolvimento em toda a humanidade que inteligentemente o adotou.

Mais enfim o que restou desse sonho que o mundo capitalista adotou por pouco menos de dois séculos e depois apareceu o capitalismo rentista que se constituiu como um verdadeiro predador do patrimônio das nações mais pobres e seus povos explorados? Para ser o mais preciso possível, quase nada. Inventaram o mercado de papéis que enfim tem bem mais valor hoje que o mercado de produtos de Smith, inventaram o monopólio, o oligopólio, as ações dos mais diversos tipos, os empréstimos com juros extorsivos aos países pobres como forma de manipularem as suas economias sempre e sempre mais dependentes, inventaram as taxas de juros flutuantes e com isso nasceram também as dívidas internas e externas impagáveis e, por fim, inventaram a ONU.

O objetivo da criação da ONU foi muito importante para se tentar conter os ânimos das nações mais belicistas, mas, mesmo assim, se assimilou facilmente as mais falaciosas e distorcidas explicações sobre as invasões aos países pobres na busca pelo seu petróleo e riquezas mais fáceis de explorar, se não com a total conivência mais pelo com a mais inusitada indiferença desse órgão que de uma esperança para o mundo, vem se se transformando num pesadelo para os países mais pobres e pequenos e numa salvaguarda a nível internacional para os velhos crimes dos grandes e ricos estados rentistas constituídos.

É esse enfim o mundo que o Lula vai ter que enfrentar para ao mesmo tempo em que precisa conter esse mercado insaciável e voraz,  satisfazer também de forma razoável  e não apenas paliativa como pensam e querem alguns, aos milhões de brasileiros carentes e/ou famintos que infelizmente ao amanhecer de cada dia, não têm o que comer nem hoje e nem tampouco amanhã. É uma gigantesca batalha que ele terá que enfrentar e somente terá sucesso nessa empreitada que além de humanística é também patriótica, se essa verdadeira legião de despossuídos e quase sempre manipulados pela nossa velha imprensa que – vez por outra se apresenta como golpista -, não o abandonar. Quem viver, verá!…

Emílio Oliveira,
20/11/2022.

*Artigo de opinião enviado ao Facho.

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